quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sentimentos...


As pessoas têm manias, têm temperamento, têm hábitos que nos incomodam. Elas reclamam de tudo, pateticamente. Elas se enfurecem com tudo, histericamente. Elas têm problemas, opiniões, desejos, amigos. Elas são lindas e nos causam ciúme. Elas são controladoras e nos irritam. Elas podem ser frívolas e indiferentes. Frequentemente mergulham nelas mesmas e nos deixam entregues às apreensões e receios. Às vezes queremos que sumam, morram, pelo-amor-de-deus desapareçam. No outro dia acordamos sem elas e o coração perde duas batidas, de medo

Na verdade, sofremos de sentimentos demais. Eles transbordam, excedem, afogam. Seria infinitamente mais simples se fôssemos como os outros. Veja o casal do elevador, o professor de natação e a namorada dele. Obviamente felizes, simples, calmos. Trocam duas palavras e um olhar entre o quinto e o térreo. Gente bem resolvida. É impossível que ela chore de noite por temer que ele não a ame. Evidentemente ele não se isola diante da televisão e tenta aplacar os nervos vendo um filme inútil. Eles certamente nunca se metem em discussões dolorosas. Sabem o que fazer deles mesmos e do seu amor. Eles têm as respostas. As criaturas esquisitas somos eu e você. Eles, os outros, são simples e felizes. Gente bem resolvida.

Os sentimentos são o nosso principal problema, claramente. Estamos encharcados deles. Sentimentos de toda espécie, misturados. Você olha para aquela pessoa que abriu a porta e eles afloram, conturbados. Quanta aflição não esconde um abraço? A gente então conversa, e a confusão reflui. A gente espanta o assombro com a nossa voz e o nosso riso. A trivialidade nos resgata como um bote salva vidas. Nos olhos do homem a gente ama há uma praia tranquila onde a gente ancora – até que o mar no interior dele se agite e a paz efêmera se perca. De novo.
Estar com alguém mais do que ocasionalmente, porém, constitui um desafio insolúvel – tanto quanto um prazer imensurável.


Gostaríamos que não fosse assim, claro. Preferiríamos ser gente simples, composta, direta. Em vez de todas as memórias dolorosas que trazemos conosco, paz. Em vez da confusão de planos e aspirações, clareza. Nada de turbulência submersa, nenhuma recordação inconfessável, apenas superfície indevassável e tranquila, como um lago. 
Os sentimentos não nos largam, indecifráveis. O carro trafega a 40 km por hora, numa alameda ensolarada, e a lembrança de um certo olhar pungente quase nos leva às lágrimas. De onde vem essa emoção? Certamente da música, um samba travesso de Chico Buarque que nos conecta a tudo e a todos, num momentâneo abraço cósmico pós-eleitoral. Somos todos irmãos, ela me ama, a morte mora numa toca no fim da eternidade, tudo é lindo. 
A pessoa que fica ali – ou que gostaríamos que ficasse, mas não fica – constitui nosso maior problema, e talvez nossa única solução.

Ivan Martins



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Nunca soube dar título pras coisas...

Não adianta tentar encontrar um desvio ou dar outro nome à coisa toda. É verdade. Duas pessoas legais, divertidas, inteligentes se encontram em um momento da vida. Talvez fosse um dos desejos dela tornando-se realidade.
Com o tempo, essas duas pessoas acabam criando uma rotina que, infelizmente, pode acabar saturando ambos. Porque pessoas têm expectativas diferentes (ou simplesmente não tem expectativas nenhuma)...
Sem sms durante o dia, sem ligações, sem encontros frequentes...
Ela tenta descobrir o que aconteceu... 'Eu que deixei de ser interessante ou ele que nunca esteve realmente interessado? Ou será que eu não mudei do jeito que devia e mudei pro jeito que não devia?' 
A verdade é uma só: duas etapas da vida diferentes. Um, é um livro de vinte e poucos capítulos. O outro, é um de dez capítulos a mais. Apesar de que, comparar com um livro pode não ser o mais adequado. Sem analogias, então...


Mesmo não entendendo muito sobre tudo, ela sabia que aquele pedaço de gente era um grande pedaço da sua felicidade. Talvez um pedaço dela, melhor dizendo... Sabia também que podia correr o risco de não ter coragem de viver tudo novamente. Não que pudesse, realmente, viver tudo novamente. Cada pessoa que entra em nossa vida, vira um pedaço de nós. Quando vão embora, levam esse pedaço com eles. Já era. Esse pedaço não volta mais. Então é isso. Ele já é um pedacinho dela. Quando for embora (se já não foi), levou um pedaço dela.



Foi a primeira vez que ela deixou que tudo isso acontecesse. Deixou que alguém a conhecesse. Mas talvez a pessoa não tenha aproveitado tanto assim essa oportunidade. Ou ela que não foi tão sincera assim, também. 

Uma única pessoa tem diversos 'eu'. Um eu no serviço, um eu na faculdade, um eu em casa, um eu no relacionamento.. Não que ela tenha inúmeras personalidades, mas o comportamento muda em ambientes diferentes... Ele conheceu um 'eu' dela. Ela queria que ele conhecesse todos, ele não. Ela queria que ele quisesse muitas, muitas coisas dela. Muitas coisas com ela. Muitas coisas por ela.
Mas novamente, ela queria errado. Não podemos querer pelo outro. É errado. Quando começa com isso, inevitavelmente a coisa toma um rumo errado. 


Deixo aqui, uma música que traduz muito bem o sentimento dela. Talvez equivocado, precipitado, exagerado... quem é que realmente vai saber? 



Not really sure how to feel about it
Something in the way you move
Makes me feel like I can't live without you
And it takes me all the way
I want you to stay



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

As metades da laranja...


Vamos parar de uma vez por todas com essa história de cara metade.  Todos nascemos com a cara completa.  Mais ou menos bonitinha.  Mas completa.  Metade da laranja?  Gente, laranja que já me chega pela metade, vamos combinar, eu não chupo.  O legal da laranja é ela chegar redonda, bonita, ir sendo descascada, num processo.  Bonito é ser inteiro, sempre.  Nada de metades. Metades nos tornam capengas, necessitados de bengala.  A ideia de que alguém não caminha sem outro é pura balela.
Tem que ser assim: olha, eu estou aqui, inteira.  Se você quiser fazer parte da minha vida, será muito bem-vindo. Poderemos nos trançar em muitos sentidos, sem cobranças infantis, sem estar junto só para fugir da angústia.
Às vezes confundimos tudo. Porque amar dá saudade. Só isso.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Chega de comodismo, fia!

A gente pode decidir o seguinte: combinar de tacar o "dane-se" juntos,  virar cada um pro seu canto juntos, ir trabalhar em horários diferentes pra não se esbarrar nunca, juntos. Por favor. Vamos combinar. Tem que ter sincronia. Sincronia nas necessidades e vontades.
Pior que traição física é traição sentimental. Não finge que quer, que ama, que se importa. Não brinca não. Por favor.
Se diz que quer torta de maçã, come a torta de maçã que eu fiz com carinho. Se eu disser que quero sair na chuva, sai na chuva comigo com carinho. Se não quiser nada disso, diz com carinho!

Todos os tipos de relacionamentos precisam ter respeito. Respeito pelo sentimento do outro, pelo mau humor do outro, pela felicidade do outro, pela raiva do outro, pelo amor do outro... Não quer, fala. Quer, fala. Não diga que quer, quando não quer e nem o contrário.

Hoje em dia, temos uma certa tendência ao comodismo. Tá faltando carinho, amor recíproco, companhia sincera mas, se tem alguém lá cumprindo mais ou menos os "deveres", a gente deixa. Melhor o meio do que o nada... Só que não!! Meio não dá! Ouviu, filha? Meio não dá!

Deixa essa capacidade (ou seria in) de não dar um ponto final nas coisas... Para de ser como uma vaca (o animal, calma), que come o capim e deixa um estoque no estômago pra ficar remoendo depois (espero que seja mesmo uma vaca que faz isso)...

Chega de se dedicar quando a outra pessoa tá sentada, de perna pra cima, vendo TV e tomando uma cerveja. Por favor, essa coisa de escravidão no relacionamento não dá mais: abolição já!