terça-feira, 1 de dezembro de 2015

Alívio.

Um ano e sete meses que eu tinha aceitado que não teria mais você na minha vida. 19 meses ciente de que não teria mais domingos de manhã cheios de carinho, acordando cedo só pra perder um tempo conversando sobre qualquer coisa que desse na nossa telha. Agora esse dia era destinado à ressacas - físicas e morais. Aumentei os números, esvaziei o coração e enchi o copo. Talvez mais do que devia, pra não lembrar do que eu tinha ido lá pra esquecer. 

Depois da diversão, tudo ficava claro: a tristeza batia, a repulsa era instantânea, a sensação de solidão era profunda e a saudade que eu tentava esquecer só aumentava. As pessoas, a música, o lugar, a bebida, a companhia do dia, tudo virava um fardo. Tudo isso era como uma droga com benefícios limitados mas que tinha muitos efeitos colaterais. 

Por onde você estava? Por que não voltava? Por que foi? 

Eu estava emocionalmente indisponível pra qualquer outra pessoa, não tinha espaço aqui, nem condições emocionais pra possíveis substituições vazias. O que morava em mim era saudade, incertezas e vazio. Te procurava em todos eles na forma de falar, de conversar, de me chamar... Comparações são inevitáveis. Ninguém é bom o suficiente. 

A culpa do adeus me atormentava todo dia. Nos primeiros dias ela me sufocava. A culpa de ter dito o que não deveria, de fazer o que não era o certo ou de manter o que não deveria ser mantido. E mesmo assim eu te esperava. Mais no começo, menos depois. Mas esperava.

Até que você voltou.

Senti alívio.
Alívio daqueles que a gente sente quando consegue cancelar um e-mail que ia pra pessoa errada. Ou quando consegue fazer xixi quando tá com muita vontade. Alívio de lembrar do aniversário do seu melhor amigo no último minuto. Alívio como quando a gente joga uma água na cara depois de terminar uma corrida. Alívio de ter tido a coragem de levantar a bunda do sofá e ir correr. Aivio de saber que o pesadelo acaba quando a gente acorda. Alívio de ver que o machucado não doi mais. Porque não doía. Não mais. 

Muito tempo passou. Muita coisa mudou. Muitas pessoas entraram e saíram. Menos você. Você é o mesmo. Nós somos os mesmo, nem que só sejamos os mesmos um com o outro.

Não espero ter você nos meus domingos. Eu sei que não vai ter cócegas no sofá num sábado à tarde. Não vai ter cinema. Não vai ter mãos dadas tomando sorvete à tarde. Não vai ter conchinha. Não vai ter abraços, mordidas, beijos, cafunés. 

Mas obrigada por ter me ajudado a encher meu coração, agora cicatrizado, de cor novamente.