segunda-feira, 22 de maio de 2017

A impermanência da vida

Quinta-feira passada eu sentei na mesa de um bar, com uma das pessoas que me conhece há mais tempo do que posso contar. Nessa mesa de bar, trocamos goles de cerveja, beliscos em uma batata frita com queijo e todas as coisas que aconteceram naquela última semana que ficamos sem nos falar muito, mais por amenidades do que por qualquer questão mais significativa.

O assunto principal girou em torno da impermanência da vida - nossa Ana, usa um termos mais comuns, como "não duradoura", "breve", inconstante... - Meus amigos, vai por mim, nada descreve melhor esse momento como a expressão impermanência.

Tudo que a gente conhece vai embora, mais cedo ou mais tarde.

Nossos empregos vão, nossos amigos vão, nossas casas vão, nossa família vai, nossos amores vão.. Podem não ir hoje, mas eles vão, sooner or later. E não vão porque querem, eles vão porque é assim que a vida é. Nós também vamos. Talvez não hoje, ou nem amanhã. Pode ser semana que vem. Pode ser daqui 15 anos. Mas nenhum de nós escapa das perdas ou das partidas.

Hoje perdi hora pra ir pro escritório. Percebi que o secador de cabelo não quer esquentar. Vi que tinha que ter feito a barra de uma calça que eu tive preguiça de levar no final de semana. Recebi uma mensagem nesse meio tempo de uma pessoa que não vejo há 5 anos, me perguntando se eu sabia o que tinha acontecido. Acontecido o quê, gente? Voltei pro e-mail, respondi mil coisas, fechei mais um projeto que tava demorando anos, fiz mais umas três, quatro ligações, mandei outros dez mil whatsapps, corporativos, pessoais, impessoais, sem sentido nenhum. Me estressei com meu sobrinho porque queria brincar e eu não podia. Fiquei mais uma vez irritada porque tinha perdido a hora. Por que eu sempre acho que a vida acontece do lado de dentro da catraca e não do lado de fora da catraca?

Nossa vida é muito além do que somos programados pra fazer todos os dias da semana. 



Ano passado perdi uma pessoa que foi alguém bem importante em um momento cheio de mudanças e outros aprendizados da minha vida. Perdi. Foi uma das situações mais claras de impermanência que vivenciei nos últimos 10 anos. Dois meses depois de uma volta que demos do Flamengo à Lapa, descobri que nunca mais conseguiria dar esse passeio com ele. E eu não consegui me despedir. E ele se foi, do jeito que uma nuvem carregada de chuva vai... Rápido, sereno, num piscar de olhos...

Hoje, se foi outro. Outra pessoa que eu conheci há 6 anos. Conheci há 6 e coincidentemente voltava na companhia dele nos meus últimos semestres de faculdade. Ele, que tentou marcar N outras coisas comigo depois disso e eu nunca tinha tempo ou sempre tinha alguém pra colocar na frente, mesmo sem intenção nenhuma. Ele, que conheceu mais países no último ano do que pude contar. Que foi pra mais festas do que fui minha vida toda. E que ria mais que eu em todas as fotos que publicava... Hoje o Leo se foi. Ele deixou a gente aqui e eu não vou conseguir mudar isso, você não vai, a mãe dele não vai... 

A vida é mais do que os e-mails que eu não respondi. Mais do que as ligações que eu não fiz. A vida é o convite que eu não aceitei, o abraço que eu não dei, o beijo que eu não retribui, a risada que eu contive, o aperto de mão tímido. A vida é a mesa de bar numa quinta a noite, é um sorvete de casquinha numa segunda de manhã, é a poça da lama numa segunda chuvosa. A vida não é o que a gente procura e não acha. A vida é o que tá debaixo do nosso nariz e a gente destrata. A vida é o onibus que você não pegou, o avião que foi, a lágrima na bochecha. A vida é quem você vê todo dia, quem você só vê no fds e que você só vê uma vez no mês. A vida tá aqui. E ela não ta aqui pra sempre. O Leo não tá aqui pra sempre. Você não vai ficar aqui pra sempre.

A vida é o eu te amo, o parabéns, o vamos juntos, o fica comigo, o abraço apertado, o aperto de mão, os três beijinhos na bochecha, o filme que vê junto, a cerveja que une, a risada escandalosa que dá sentido ao dia... 

Vai em paz, Leo.
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terça-feira, 7 de março de 2017

Dá uma mãozinha aqui?

Durante todo o caminho do trabalho pra casa pedi que agora, 22h, estivesse caindo aquela chuvinha enquanto eu tento desafogar dez mil pensamentos nesse texto atrasaaaado que só. Mas não tá chovendo. That's life. Vamos lá.

A gente pede. Pede muito. Mas pede mais que deveria. Pede dia e noite, noite e dia. Cada um pede pro que acredita: pede pra Deus, pro universo, pra mãe natureza, pra qualquer coisa - ou qualquer ser que você queira - pra dar uma mãozinha em algo que seja, aparentemente, muito muito importante pra gente. E seguimos pedindo sempre que vemos à nossa frente algo que não julgamos humanamente possível resolver sozinhos. Tolos.



Eu tenho uma dificuldade enorme em pedir. Aqui sempre rola uns diálogos internos, mais ou menos assim:
"- Po, queria tanto, mas taaaaaanto isso aqui, Deus!
- Não Ana, é ridículo você pedir isso, tem tanta gente pedindo coisa melhor, que esse seu pedidinho michuruco aqui vai lá pro fim da fila, fia.
- Mas pera, não vamos diminuir a importância disso aqui só porque tem muitos outros pedidos importantes...
- Mas cê podia pedir outra coisa, é perda de "pedido", guarda pra outra coisa mais importante!
- Deus, me ajuda, não quero pedir mas quero pedir, como cê tá me ouvindo aí mesmo que seja um diálogo interno, não precisa dar uma mão inteirinha não, da só um dedinho!
- Agora pronto, Deus tá olhando lá pra mim e achando a maior tonta por ter perdido tempo pedindo isso...
- Pediu, pediu. Mas juro que não vou mais pedir sascoisa.. 
Dois dias depois...
- Deus, cê tá aí?"

O ponto é: a vida é bem como um jogo de videogame mesmo. Mas não é tipo Mário que a gente joga até o fim e, quando acaba, pode jogar de novo. Cabo, cabo. E meu jogo não é o mesmo jogo que o seu. E usando a analogia mais clichê do mundo: a cada fase conquistada, mais difícil fica e mais medo a gente tem. Tem medo, sim. 

Medo danado que tira até o sono, muitas vezes. E tirar sono é uma puta duma sacanagem, vou te contar. Virar pra lá, pra cá, travesseiro parecendo que é feito de pedra, não aconchega a nossa cabeça, não tem abraço e afago pros cabelos e mente cansada. Rola pra lá e pra cá. Cobre, descobre. Relembra tudo que fez e acha que foi errado, que fez e acha que foi certo, mas que no fim não parece tão certo e o errado, que na verdade nem é assim tão errado. 

Mas vem cá... pedir alivia, né? Tira um pouco do peso no peito, eu sei. 
Só que tô aprendendo a pedir "certo", agora. Pedir quando eu tenho que pedir, não pedir por preguiça de agir.
Não é mais: "eu quero isso aqui". É:
"vamos aprender a como conseguir isso aqui que eu quero, porque nada nessa vida cai do céu, mas só me ajuda a não cagar no pau de novo mais pra frente, por favorrrrrrr" (afinal, o problema não está em pedir, está entre o pedido e o resultado que, vai por mim, tem muito que tá sob nosso controle). 

Não prometo que você vai dormir mais rápido,
ou que vai rolar menos na cama, ou que o travesseiro vai ser tipo de algodão egípcio de tão softy que vai ser. 
Pode não ser assim tão fácil. Mas mudar o mindset é o primeiro passo.

Vai na minha que cê passa de ano.