quarta-feira, 6 de junho de 2018

Como seis dias me chacoalharam

Eu estava sentada, no fim da tarde de uma segunda-feira, em minha mesa no trabalho. Eu tava olhando pra uma planilha há horas, tentando terminar tudo que eu precisava terminar. Eu não estava pensando em nada. Absolutamente nada. Talvez devesse estar pensando na planilha, mas depois de tanto tempo, meu cérebro já tinha desligado. E eu estava lá, sentada. Empacada. 

Fazia um tempão que não acontecia de eu encarar uma insonia tão chata. 4am e eu revirando na cama. 22hrs consecutivas sem dormir e eu tinha só mais 3h de sono naquela noite. Mesmo se dormisse exatamente naquele horário, dificilmente eu teria um humor decente no outro dia e foi assim. Mais um dia e eu sentada, olhando pra tela, 19h05. Agora, ao invés de uma planilha, tinha um formulário. Eu só estava seguindo a maré. A tela do computador mudava, o cliente mudava, a estratégia mudava... Mas todo dia é o mesmo ônibus, metrô, rua, lado da calçada, escadas...

Abri o site, escolhi destinos e, depois de 24h de análise, pronto. Comprei uma viajem. Comprei tudo, em 5 cliques. 
Um mês depois, eu fui. Sozinha - mas com lenço e com documento, porque senão não embarcava. E que bom que eu fui. Deveria ir mais vezes. Deveria ir sempre que pudesse e quisesse. Todo mundo deveria ir. Só ir. Não importa se é pro Chile, Paranapiacaba, Austrália ou Egito. Nós, todos nós, deveríamos ir.

E por que a gente deveria ir? Porque viver é isso. É chegar no aeroporto e não achar o cara do traslado que você comprou. É já fazer amizade com uma pessoa que conhece uma outra pessoa que veio do mesmo lugar que você. É confiar que um estranho te colocou dentro de um táxi de verdade e que aquele motorista vai deixar você no seu hotel. E tudo vai dar certo. Sempre dá certo.

Eu tive a melhor semana da minha vida no Chile, sozinha. Eu conheci mais sobre mim, eu vi, senti e conheci coisas diferentes todos os dias. Eu aprendi a gostar mais de mim. Apreciei minha companhia numa banheira, bebendo vinho e lendo um livro. Aprendi a ter mais fé na humanidade, também. Vi que sempre existe solidariedade, empatia e compaixão onde quer que a gente vá.
Me senti livre, me apaixonei, esqueci o que tinha deixado aqui, limpei a mente e o coração, e me questionei sobre quem eu sou hoje e o que faço hoje.

Faz um mês que eu voltei pra rotina. Voltei pro mesmo escritório, com as mesmas pessoas, mesmo ônibus, metrô, lado da calçada, escadas... Mas não voltei a mesma. Eu já sou outra. Eu abri meus olhos. Vi outras cores no cinza da cidade. Outro sentido na planilha, outro motivo final pro formulário. Hoje, eu olho pra tudo que eu tenho ao meu redor e vejo uma vida doce, não posso mentir, mas uma vida que só viu uma fração de tudo o que pode ter, ser, criar... 

Hoje, todo dia antes de dormir, eu abro o site de passagens e fuço, no mínimo, uns 4 destinos diferentes.

Porque uma vez dada a largada, não vai ter quem me faça ficar parada no lugar agora.

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