terça-feira, 15 de julho de 2014

Fim ou o começo do poço?

Em reunião de família sempre rola aquela certeza de que você pode melar o dia da galera se der vexame, ou fazer todo mundo feliz com sua versão alterada e engraçada. O problema do álcool é que, às vezes, rola aquela necessidade incontrolável de tentar se encontrar de uma forma melhor através da bebida. E isso traz a tona aquela solidão que fica escondidinha dentro do seu peito e que aparece sorrateiramente quando você menos quer ou quando faz menos sentido ela dar o ar da graça. Solidão essa que seria aceitável num domingo a tarde chuvoso, ou na volta pra casa num dia da semana qualquer de cansaço e necessidade de um abraço ou qualquer demonstração de afeição. Não. Ela aparece num feriado, quando seus sobrinhos correm pra lá e pra cá, seu irmão tá do seu lado apertando sua barriga, enquanto o outro dá um tapinha no seu bumbum pra relembrar a época em que as cinco crianças moravam debaixo do mesmo teto, além de ter suas cunhadas cercando a mesa... e você tá lá, só vendo tudo passar. 
Quando a gente tá com medo, nosso instinto de afogar aquele sentimento angustiante numa garrafa de cerveja fala mais alto. Mesmo sabendo que todos estão em casa e que a probabilidade de bater com a língua nos dentes é grande, a gente arrisca.

Ao invés de cair da cadeira, derrubar alguma coisa ou rir desesperadamente pra qualquer coisinha babaca que acontece, o tiro sai pela culatra e o efeito colateral da mistura entre seu medo e o álcool é o efeito que você mais queria evitar (porque sabe o tamanho da vergonha que vem com ele): o choro. Não tô dizendo de um choro contido, ou uma lágrima que rola no canto do olho e a gente passa rapidamente a manga da blusa pra tirar logo aquele rastro da bochecha. Até porque pra minha infelicidade maior não tava frio o suficiente pra usar blusa de manga. Eu tô falando de choro mesmo. Aquele que te estremece e faz seus ombros descerem e subirem incontrolavelmente. Aquele que não dá pra disfarçar nem se você quiser. Segundos depois e seu irmão mais novo, o mais velho e a mãe tão do seu lado. Um sentado na sua frente te olhando com cara de dó, o outro te abraçando e sua mãe com os braços cruzados do seu lado. E você envergonhada, se sentindo nua e desamparada mesmo com tanta gente disposta a ajudar no que fosse possível.

Não vamos falar sobre o motivo. Bola pra frente, que a vida continua. Dia seguinte a gente chama a amiga pra tomar uma cervejinha e aquela pontinha de solidão reaparece minutos depois de ter pedido a primeira cerveja. Letras garrafais estampam uma faixa na frente do bar dizendo que é open bar. De alcool e churrasco. Uma parte de você justifica a atitude de tacar o 'foda-se' e beber novamente porque você merece. A outra parte te olha incrédula, crente de que sabe que aquilo não é exatamente o que você quer. Não é aquilo que você precisa. Seis horas depois e você tá voltando pra casa, sem conseguir distinguir direito o que é pé esquerdo e o que é pé direito. Aí a gente entra no ônibus e coloca os fones de ouvido. Playlist no modo aleatório. E logo a musica que você devia ter evitado começa a ecoar nos seus ouvidos, te fazendo pensar em tudo o que você havia ignorado a tarde toda. Sabe aquele choro não contido no dia anterior? Lá está ele novamente. Te fazendo balançar na cadeira em frente ao cobrador, que te olha com olhar de compaixão. E se não bastasse, cada vez que você respira fundo e acha que aquilo vai passar, a tempestade de lágrimas te traz ainda mais pro fundo do poço, te fazendo perceber que não, você não é sempre forte.

Como é que a gente chegou a esse ponto? Como é que a gente sai desse ponto?

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